É por isso que é sobretudo a partir da transição do século que as entidades de gestão colectiva do direito de autor (bem como as grandes empresas multimédia) que se foram constituindo e consolidando a respetiva atividade na Europa, ao longo do século XX, começam a defender o aumento dos Direitos de Autor em detrimento do Domínio Público, ou seja do aceso livre às referidas obras.
No caso específico das Bibliotecas Públicas europeias, aquelas entidades e empresas (nem tanto os autores) constituíram-se num lobby europeu em defesa de legislação que imponha o maior número possível de taxas à utilização e fruição de todos de bens audiovisuais.
Como as Bibliotecas Públicas ao adquirir esses bens já pagavam direitos de autor, a União Europeia avança com legislação que propõe o pagamento de uma taxa pelo empréstimo domiciliário, até então sempre gratuito, de livros, cds e dvds. Os países do Sul da Europa, alegando sobretudo a fragilidade dos hábitos de leitura dos respetivos países, para além do esforço de construção e de manutenção de redes nacionais de bibliotecas públicas, iniciado nos finais do século XX, tentam e conseguem eximir-se e protelar esta imposição legal. Estamos em 2004. Contudo, a pressão de imposição da Diretiva Europeia de Defesa dos Direitos de Autor e Direitos Conexos continua a ganhar terreno.
Em Espanha, por exemplo, quando o governo espanhol adere a esta Diretiva (2007), os bibliotecários públicos organizaram-se no movimento NO AL PRESTAMO PAGO que sistematizou e divulgou amplamente as razões pelas quais as Bibliotecas Públicas não deveriam jamais cobrar o empréstimo aos seus leitores pelas obras compradas por cada Biblioteca.
«Según el real decreto estarán sujetos a la compensación a los autores por el préstamo de obras con derechos de propiedad intelectual los museos, archivos, bibliotecas, hemerotecas, fonotecas o filmotecas de titularidad pública o que pertenezcan a entidades de interés general de carácter cultural, científico o educativo sin ánimo de lucro.» O decreto isenta de pagamento as bibliotecas escolares e os ayuntamentos com menos de 5000 habitantes.
O Conselho de Ministros afirma que este pagamento «en ningún caso supone cargas para los ciudadanos», na medida em que o real decreto «afecta fundamentalmente las administraciones públicas titulares de estos establecimientos». Todavia, se as bibliotecas públicas espanholas, como tantas outras na Europa e nos EUA, já se debatem com cortes brutais nos seus pressupuestos, tendo mesmo chegado a orçamentos 0 (zero) para aquisição de obras, como poderão pagar agora para a respetiva utilização?
Dados obtidos nesta Plataforma.
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Contudo, também na sequência do que se passara em Espanha, em 2008 começa a falar-se entre bibliotecários nos perigos da aplicação Diretiva Europeia em Portugal, como se pode verificar pela tomada de posição da BAD (Associação Portuguesa de Bibliotecários, Arquivistas e Documentalistas).
Em 2012, a Sociedade Portuguesa de Autores envia um ofício «a diversas entidades titulares de bibliotecas públicas alertando para a necessidade de requerer autorização e pagar uma taxa pela realização de "espetáculos", que incluem atividades de animação e dinamização da leitura habitualmente realizadas em bibliotecas de que é dado como exemplo "A hora do conto"». Na sequência de alguns contactos e alertas para as graves consequências desta situação, como o da BAD, o conselho de administração da SPA anulou o referido ofício.
Em 2013, a Gedipe (Associação para a Gestão de Direitos e Autor, Produtores e Editores) criada em Março de 2012, tenta agora ela fazer cobrar o empréstimo de obras nas Bibliotecas Públicas, sendo de novo contestada, entre outros, pela BAD.
Na impossibilidade de cobrar o empréstimo e, sobretudo, na ausência de investimento significativos em aquisições de obras por parte da maioria das bibliotecas públicas portuguesas, a empresa de gestão de direitos de autor, GEDIPE, concentra-se, à semelhança das suas congéneres europeias. na pressão para que sejam taxados todos os equipamentos que permitem a cópia ilegal, a saber:
Em Portugal como em Espanha o acesso livre à cultura por parte de todos encontra-se progressiva, mas incontestavelmente cerceado em prol de uns quantos poucos, entre os quais os autores não serão com certeza quem mais recebe.
¡Gracias por compartir tu post en #encirc14!
ResponderEliminarEs un gran aporte, ya que se habló mucho de la situación en España y es bueno conocer qué pasa al respecto de las bibliotecas en otros países europeos, afectados también por esta Directiva. Es interesante ver que los países adoptan distintas respuestas y sobre todo que esas respuestas son posibles y justificadas.